Análise IEDI
Sem vetores de dinamismo
O resultado da indústria no mês de dez/22, divulgado hoje pelo IBGE, ilustra bem o quadro do setor no ano passado. Mais uma vez não houve crescimento, indicando a ausência de vetores de dinamismo que possam restabelecer uma trajetória de retomada industrial no país. A produção registrou 0% frente a nov/22, já descontados os efeitos sazonais, e -1,3% ante dez/21.
Em 2022 muitos obstáculos conjunturais estiveram em atuação, como pressões de custo, gargalos remanescentes das cadeias, aumento das taxas de juros e encarecimento do crédito, desemprego e queda do poder de compra, além das incertezas advindas do campo político e do cenário internacional. Apesar disso, como o IEDI sempre enfatiza, sabemos que os problemas da indústria brasileira não vêm de agora e são muito mais profundos.
As adversidades pontuais e estruturais se traduzem em uma sequência de resultados ruins que já está ficando bastante longa, comprometendo novos ciclos de investimento e modernização do parque produtivo que são essenciais para a competitividade do setor. Entre 2014 e 2022, em 2/3 do tempo a indústria ficou no vermelho e os anos positivos em geral foram recuperações parciais de quedas anteriores.
Em 2022, o ano se encerrou com variação de -0,7% frente a jan-dez/21, com todos os macrossetores industriais perdendo produção, assim como 17 dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE, isto é, 65% do total. Cabe observar ainda que quase ¼ dos ramos apresentaram declínio nada desprezível, como móveis (-16,2%), madeira (-12,9%), têxteis (-12,8%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,7%).
E isso porque bases de comparação deprimidas, devido à perda de fôlego na segunda metade de 2021, ajudaram a produzir taxas interanuais positivas agora neste 2º semestre de 2022, como mostram as variações a seguir. A contar pela série com ajuste sazonal, onde as comparações não trazem a memória do ano anterior, a produção industrial mal saiu do lugar chegando a dez/22 em um nível 0,6% inferior ao de jun/22.
• Indústria geral: -4,4% no 1º trim/22; -0,1% no 2º trim/22; +0,9% no 3º trim/22 e +0,5% no 4º trim/22;
• Bens de capital: -2,3%; -0,1%; +0,7% e +0,4%, respectivamente;
• Bens intermediários: -3,3%; -0,6%; +0,7%; +0,3%;
• Bens de consumo duráveis: -18,3%; -4,7%; +8,2% e +2,9%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -4,3%; +1,9%; +0,2% e +1,1%, respectivamente.
No acumulado do ano passado, o macrossetor com maiores dificuldades foi bens de consumo duráveis, com variação de -3,3% frente a 2021. Tal como o restante da indústria, voltou ao positivo na segunda metade do ano na comparação interanual, mas, ainda assim, perdeu dinamismo no 4º trim/22 (+2,9%), devido à desaceleração da indústria automobilística. Móveis e Eletrodomésticos não chegaram a ter um único trimestre positivo em 2022.
Todos os demais macrossetores tiveram resultado anual igual ou não tão adverso quanto o da indústria geral.
O macrossetor de bens intermediários recuou -0,7% em jan-dez/22 frente ao mesmo período do ano anterior. Sua reação no 2º semestre do ano foi fraca e chegou ao 4º trim/22 virtualmente estagnado (+0,3%). Têxteis (-9,7% ante 4º trim/21), insumos para construção civil (-5,3%) e intermediários de metalurgia (-2,1%), que também só tiveram trimestres negativos no ano, foram os principais obstáculos. Ademais, houve forte desaceleração em derivados de petróleo (de +9,5% no 3º trim/22 para +0,1% no 4º trim/22) e celulose (de +21% para +3,3%).
Bens de capital e bens de consumo semi e não duráveis ficaram em um quadro de quase estabilidade: +0,3% e +0,2%, respectivamente, no acumulado do ano.
No último trimestre de 2022, bens de capital registraram +0,4%, mas com piora substancial em bens de capital de uso misto (-12,5%) e para agricultura (-12,1%). No caso de bens de capital para a própria industrial, tivemos mais um trimestre de perda: -6,3%. Como o IEDI vem destacando, este não é um bom sinal para o investimento do setor.
Já bens de consumo semi e não duráveis foram o único macrossetor a ganhar robustez no final do ano. A alta de +1,1% no 4º trim/22 veio principalmente de dois segmentos: combustíveis, que passaram de -4,4% no 3º trim/22 para 6,7%, produtos farmacêuticos, que progrediram de +0,5% para +13,9% neste mesmo período.
A partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de dezembro de 2022 divulgados hoje pelo IBGE, a produção da indústria nacional registrou estabilidade frente ao mês de novembro, na série livre de influência sazonal. No acumulado no ano registrou-se decréscimo de -0,7%. Em comparação com o mesmo mês do ano anterior (dezembro de 2021), aferiu-se retração de -1,3%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior (novembro/2022), quatro das cinco categorias analisadas apresentaram variação positiva, na seguinte ordem: bens duráveis (4,1%), bens semiduráveis e não duráveis (3,2%), bens de consumo (2,2%) e bens de capital (1,8%). Na categoria de bens intermediários foi registrada queda de -2,1%.
Frente ao mesmo mês do ano anterior (dezembro/2021), três das cinco categorias apresentaram variação positiva, na seguinte ordem: bens semiduráveis e não duráveis (3,1%), bens de consumo (1,4%) e bens de capital (0,9%). Em sentido oposto, as categorias de bens duráveis (-5,8%) e bens intermediários (-2,6%) caíram.
No cumulado no ano de 2022, as cinco categorias analisadas assinalaram resultados negativos: bens duráveis (-3,3%), bens de consumo (-0,8%), bens intermediários (-0,7%), bens de capital (-0,3%) e bens de consumo semiduráveis e não duráveis (-0,2%).
Setores. Na comparação de dezembro de 2022 com o mesmo mês do ano anterior (dezembro de 2021), houve variação positiva no nível de produção em 11 dos 26 ramos pesquisados. As maiores variações positivas foram percebidas nos seguintes setores: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (9,1%), artigos do vestuário e acessórios (8,0%), móveis (7,6%), couros e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (6,7%) e produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (5,6%). Por sua vez, as maiores variações negativas ficaram por conta dos seguintes setores: outros produtos químicos (-3,2%), produtos de madeira (-3,5%), máquinas e equipamentos (-3,6%), metalurgia (-5,1%) e produtos do fumo (-8,0%).
Na comparação do acumulado no ano de 2022 (janeiro-dezembro), a produção industrial apresentou variação positiva em nove dos 26 ramos analisados, com destaque para os itens de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (12,9%), produtos do fumo (8,6%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (6,6%), celulose, papel e produtos de papel (3,1%) e fabricação de bebidas (3,0%). Por outro lado, os setores que apresentaram as maiores variações negativas foram: metal, exceto máquinas e equipamentos (-9,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,7%), produtos de produtos têxteis (-12,8%), produtos de madeira (-12,9%) e móveis (-16,2%).