Análise IEDI
Melhora no mercado interno
No 2º trim/23, pela segunda vez consecutiva, o PIB brasileiro surpreendeu positivamente. Os dados divulgados hoje pelo IBGE registram alta de +0,9%, já descontados os efeitos sazonais, ante expectativas de mercado que apontavam para um resultado mais próximo da estabilidade.
Tal como no trimestre passado, muito deste crescimento inesperado esteve associado a atividades primárias. A indústria extrativa foi o setor que melhor se saiu no 2º trim/23 ao registrar +1,8% frente ao 1º trim/23, com ajuste sazonal. A agropecuária, depois de avançar +21% no 1º trim/23, caiu menos do que se avaliava agora no 2º trim/23 (-0,9%).
Estes são resultados muito bem vindos, inclusive por ajudarem nosso desempenho exportador (+2,9%, com ajuste). Mas como já ressaltamos em outras ocasiões, como na Carta IEDI n. 1163, tanto a agropecuária como o setor extrativo têm uma capacidade mais limitada de espalhar seu dinamismo para o restante da economia. Ou seja, possuem menor “efeito multiplicador”.
Por isso, é importante notar a melhora progressiva do mercado interno no 2º trim/23 casada com o dinamismo do setor de serviços e a atenuação de setores da indústria, ainda restringidos pelos níveis elevados de juros no país.
Como mostram as variações com ajuste sazonal a seguir, o consumo das famílias ganhou um pouco mais de vigor e registrou +0,9% ante o 1º trim/23, enquanto o consumo do governo acelerou para +0,7%. Ambos componentes da demanda estão em um ritmo que é praticamente o dobro daquele do 4º trim/22.
• PIB total: +0,1% no 4º trim/22; +1,8% no 1º trim/23 e +0,9% no 2º trim/23;
• Consumo das famílias: +0,4%; +0,7% e +0,9%, respectivamente;
• Consumo do governo: +0,3%; +0,4% e +0,7%;
• Formação bruta de capital fixo: -1,2%; -3,4% e +0,1%;
• Exportação: +3,5%; +0,3% e +2,9%;
• Importação: -3,7%; -3,9% e +4,5%, respectivamente.
Fatores como a redução da taxa de desemprego, que, como visto ontem, voltou a um patamar próximo ao período 2012-2013, a desaceleração da inflação e a expansão da massa de rendimentos reais, além de ações de governo, como as mudanças no Bolsa Família, contribuíram para isso.
Muito deste dinamismo foi canalizado para o setor de serviços, cuja atividade está mais associada à renda corrente da população. Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (+1,3%) e outras atividades de serviços (+1,3%) estiveram entre os poucos setores a crescer mais fortemente que o PIB geral no 2º trim/23.
Em oposição, a despeito de alguma atenuação frente aos trimestres anteriores, os investimentos seguiram sendo um obstáculo a um dinamismo maior do PIB. Depois de recuos no 4º trim/22 e 1º trim/23, a formação bruta de capital fixo ficou estagnada no 2º trim/22: +0,1%, já descontados os efeitos sazonais.
Com isso, a taxa de investimento, que havia ficado em 18,3% no segundo trimestre de 2021 e 2022, caiu para 17,2% no 2º trim/23. Os níveis elevados de taxas de juros no país seguem prejudicando as decisões de investimento e o desempenho de setores cujos mercados dependem mais do crédito.
Tanto é que a indústria de transformação, após três trimestres consecutivos de retração, variou apenas 0,3% na passagem do 1º trim/23 para o 2º trim/23, com ajuste sazonal. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, seguiu sendo a única atividade econômica no vermelho: -1,7%, isto é, quase o dobro do ritmo de queda do 1º trim/23 (-0,9%).
A construção é outro ramo da indústria total que pouco tem crescido. Na série com ajuste, a despeito da base baixa de comparação, após declínios sucessivos, registrou +0,7% no 2º trim/23, suficiente apenas para compensar o resultado do 1º trim/23 (-0,7%). Frente ao mesmo período do ano passado, mal saiu do lugar: +0,3%.
O pouco dinamismo na construção e o fato de bens de capitais estarem entre os destaques negativos na indústria de transformação, como os dados mensais do IBGE já vinham apontando, guardam relação com a contração de -2,6% da formação bruta de capital fixo, o único componente da demanda com perda na comparação com o 2º trim/22.
Nos serviços, por sua vez, o comércio se destacou por ter sido o único setor que não cresceu. Variou +0,1% tanto em relação ao 1º trim/23 como frente ao mesmo período do ano anterior. Pesquisas anteriores do IBGE apontam como obstáculos os segmentos cujas vendas dependem mais do crédito. E isso apesar do pacote de isenções tributárias que turbinou as vendas de veículos no mês de jun/23 (+17,9% ante jun/22).
Segundo dados divulgados hoje pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou R$2,651 trilhões a preços correntes no segundo trimestre de 2023, variação positiva de 0,9% frente ao trimestre anterior na série com ajuste sazonal.
Com relação ao primeiro trimestre de 2022, houve variação positiva de 3,4%. No acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período anterior, houve acréscimo de 3,2%. No acumulado ao longo do ano o PIB apresentou variação positiva de 3,7%.
Ótica da oferta. Frente ao trimestre imediatamente anterior (primeiro trimestre de 2022), a partir de dados dessazonalizados, houve queda de 0,9% no setor agropecuário, além de aumento de 0,9% no setor da indústria e de 0,6% no setor de serviços.
No setor da indústria, na mesma base de comparação, verificou-se variação positivas em todos os quatro subsetores : indústrias extrativas (1,8%), construção (0,4%), eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (0,3%) e indústrias de transformação (0,3%).
No setor de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, todos os sete subsetores apresentaram variação positiva: atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,3%), outros serviços (1,3%), transporte, armazenagem e correio (0,9%), informação e comunicação (0,7%), atividades imobiliárias (0,5%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,4%) e comércio (0,1%).
Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior (abr-mai-jun 2022), o setor agropecuário apresentou variação positiva de 17,0%, enquanto o setor da indústria obteve avanço de 1,5% e o setor de serviços registrou crescimento de 2,3%.
Para o setor industrial, na mesma base de comparação, houve variação positivas em três dos quatros subsetores: indústrias extrativas, com 8,8%, eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos com 4,8% e construção (0,3%). O subsetor de indústrias de transformação registrou queda de -1,7% no período.
No setor de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, todos os sete subsetores apresentaram variação positiva: atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (6,9%), informação e comunicação (3,8%), transporte, armazenagem e correio (3,4%), atividades imobiliárias (2,8%), outros serviços (2,4%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (1,6%) e comércio (0,1%).
No acumulado nos últimos quatro trimestres frente ao mesmo período do ano anterior, o setor agropecuário apresentou aumento de 11,2%, observou-se expansão de 2,2% no setor industrial e crescimento de 3,3% no setor de serviços.
Para o setor industrial, ainda no acumulado nos últimos quatro trimestres frente ao mesmo período anterior, houve crescimento em três dos quatros subsetores: eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (8,1%), indústrias extrativas (3,5%) e construção (2,9%). O subsetor de indústrias de transformação registrou estabilidade no período.
No setor de serviços, todos os sete segmentos apresentaram incremento: outros serviços (6,2%), transporte, armazenagem e correio (5,6%), informação e comunicação (5,6%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (3,9%), atividades imobiliárias (3,0%), comércio (1,5%) e administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,8%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, todas cinco as categorias apresentaram expansão frente ao trimestre imediatamente anterior (1º trimestre de 2023), para dados com ajuste sazonal,: importação de bens e serviços (4,5%), exportações de bens e serviços (2,9%), consumo das famílias (0,9%), consumo do governo (0,7%) e formação bruta de capital fixo (0,1%).
Na comparação com o segundo trimestre de 2022 (mesmo trimestre do ano anterior), houve acréscimos em quatro das cinco categorias: exportações de bens e serviços (12,1%), consumo das famílias (3,0%), consumo do governo (2,9%) e importações de bens e serviços (2,1%). A categoria de formação bruta de capital fixo caiu (-2,6%).
Por fim, na comparação da taxa acumulada nos quatro últimos trimestres em comparação com o mesmo período do ano anterior, todas cinco categorias apresentaram variação positiva: exportações de bens e serviços (9,8%), importações de bens e serviços (4,9%), consumo das famílias (3,9%), formação bruta de capital fixo (1,7%) e consumo do governo (1,4%).